sexta-feira, 28 de junho de 2013

Marcio André , o lutador de jiu-jitsu que fez do Batan a sua “academia”

Imagens
Marcio André Junior (direita). Títulos importantes como o bicampeonato mundial de jiu-jitsu em 2011 e 2012 / Gabi Nehring
Bruna Cerdeira

“Ele chegou com uns meninos mais velhos, que eram envolvidos com o tráfico, maus elementos mesmo. Do jeito que estava ele entrou no tatame, de boné, chinelo. Eu dei um tapa na orelha dele e perguntei se ele estava vendo alguém no tatame de chinelo e de boné. Disse que se ele quisesse falar comigo, teria que esperar o final do treino”, conta o professor de jiu-jitsu Fabio Andrade sobre o primeiro contato que teve com o hoje medalhista Marcio André Junior.
“Achei que ele fosse embora, porque esses garotos rebeldes não aguentam cobrança, mas ele ficou sentadinho me esperando até o final. Então eu percebi que ele seria um vencedor”, lembrou Fabio. “Ele chegou com uns meninos mais velhos, que eram envolvidos com o tráfico, maus elementos mesmo. Do jeito que estava ele entrou no tatame, de boné, chinelo. Eu dei um tapa na orelha dele e perguntei se ele estava vendo alguém no tatame de chinelo e de boné. Disse que se ele quisesse falar comigo, teria que esperar o final do treino”, conta o professor de jiu-jitsu Fabio Andrade sobre o primeiro contato que teve com o hoje medalhista Marcio André Junior.
Naquele dia se iniciava a trajetória de sucesso como lutador de jiu-jitsu de Marcio André Junior, 18 anos, que desde os dez acumula conquistas importantes, como os títulos de bicampeão mundial (2011 e 2012), tetracampeão brasileiro (2009, 2010, 2011 e 2012) e campeão europeu (2012).


Fabio Andrade. “No primeiro contato vi que ele seria um vencedor”
Fabio Andrade. “No primeiro contato vi que ele seria um vencedor”

Marcio começou a praticar jiu-jitsu em 2006, quando conheceu o projeto do professor Fabio Andrade através de amigos de rua. 
 “O tapa que eu levei me motivou. O Fabio perguntou se eu ia treinar ou ficar como meus amigos que não queriam nada. Eu sabia bem o que eu queria e comecei a me dedicar. Graças a Deus sempre fiquei focado no esporte, porque daqueles meus amigos, um está preso e os outros morreram”, contou Marcio. 
O professor Fabio estava certo quando apostou naquele garotinho que chegou lá sem nem saber que luta era aquela. Marcio treina de segunda a segunda e chega a fazer quatro treinos de uma hora por dia. No começo, os treinos aconteciam apenas na academia Nova União, em Bangu, mas hoje Marcio também dedica seu tempo aos treinos com o Instrutor Gian Carlos, que coordena um projeto de jiu-jitsu na UPP Batan, em Realengo.  
“Eu sempre frequentei o Batan, por morar perto, tinha amigos aqui. Mas era difícil, violento. Depois que a UPP entrou, melhorou tudo. Só de não ver mais bandido armado, vendendo droga, já é ótimo. Esses eram os exemplos que as crianças tinham antes. Quando a UPP entrou, eu quis vir treinar aqui com o Gian. Além de ser bom pra mim, eu ainda sou uma boa influência para as crianças do projeto”, falou Marcio.


Marcio André desde os 10 anos é um colecionador de medalhas
Marcio André desde os 10 anos é um colecionador de medalhas

 Gian é só elogios ao jovem, tanto como atleta quanto como pessoa.  O policial disse que Marcio é um garoto muito tranquilo, muito dedicado, e que inclusive aprende muito com ele. “Eu sempre uso o Marcio como exemplo para as crianças e isso já mudou muito a visão e o comportamento delas”, disse o policial.
Gian lembra que no começo, o relacionamento com as crianças era complicado, pois elas falavam muito palavrão e não respeitavam ninguém. “Os bandidos eram os ídolos dessas crianças, mas agora elas têm exemplos de superação, garra e determinação, como o Marcio. O esporte transforma a vida dessas crianças e o objetivo principal é esse”, contou. 
Vidas que muitas vezes não são fáceis, como é o caso do próprio Marcio, que precisou ser guerreiro também fora do tatame. Aos três anos ele perdeu o pai e há mais ou menos um mês, a mãe também faleceu. Atualmente, Marcio mora sozinho e hoje o jiu-jitsu não é apenas uma paixão, mas a fonte de renda para o seu sustento.  


SD Gian Carlos (azul). “O esporte transforma a vida das crianças”
Gian Carlos (azul). “O esporte transforma a vida das crianças”

“Hoje consigo me manter por causa do jiu-jitsu, mas é difícil. O ideal seria conseguir um patrocínio, porque, apesar das ajudas de custo que recebo, os gastos com o esporte são muitos, como viagens, suplementos. Cheguei a ir para competições com a ajuda das vaquinhas que o Gian faz aqui no Batan, com os moradores, e que o Fabio faz em outras academias”, disse Marcio. 
A partir de muito esforço e dedicação, Marcio André virou referência na comunidade do Batan, para muitas crianças e jovens que também frequentam as aulas de jiu-jitsu de  Gian. O campeão, além de modelo de superação, se transformou num cidadão exemplo para a comunidade. Humilde, agradece aos professores que o tem ajudado na conquista de medalhas.
“Eu não imaginava que fosse chegar onde cheguei, mas me esforço e me dedico bastante e  agradeço aos meus instrutores  Gian e professor Fabio por sempre me apoiarem muito”, concluiu Marcio  André.
Clique abaixo e assista na Integra a entrevista com Marcio André falando se sua vida, rotina e treinos:
Entrevista com Marcio André !

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